Trauma (Itália/EUA, 1993) – Dario Argento

★★★

Dario Argento começou sua carreira de forma auspiciosa, revolucionando o giallo com sua estréia com O Pássaro das plumas de Cristal (1970), que deu o pontapé também em sua chamada trilogia dos bichos. Depois disso deu um passo em falso com uma comédia de fundo histórico (Le Cinque Giornate, 1973), para se reerguer logo em seguida e consolidar numa fase maravilhosa, de 1975 (com Prelúdio Para Matar) até 1987 (Terror na Ópera) foi uma sequência triunfal de filmes matadores, transitando entre o giallo e o horror, quando não embaralhava tudo.

Depois se uniu a George A. Romero, e a dupla soltou um filme baseado em obras de Edgar Allan Poe (Dois Olhos Satânicos, 1990), que se não correspondeu às expectativas altas, pelo menos não deixou a peteca cair.

Faltava a Argento o pulo do gato, um filme feito especialmente para o público norte-americano, e assim consolidar seu nome nos EUA, e, é claro, abocanhar uns dólares. A obra em questão acabou sendo esse Trauma, que... bem, não foi aquilo que se esperava.



Temos aqui um típico giallo, onde David (o tremendamente sem graça Christopher Rydell), um jovem que trabalha em um canal de TV, acaba conhecendo Aura (Asia Argento, a filha do homem) uma jovem anoréxica que fugiu de uma clínica. A moça é capturada de novo e devolvida a seus pais, os imigrantes Stefan (Dominique Serrand) e Adriana Petrescu (Piper Laurie de Carrie, a Estranha, aqui fazendo outra mãe esquisitona), esta última uma médium.

É justamente numa sessão espírita comandada pela mãe de Aura, numa conveniente noite de tempestade, que a jovem assiste seus pais serem brutalmente assassinados por um misterioso serial killer que atua na região decapitando suas vítimas. Caberá ao casal Aura e David investigar e descobrir o assassino, antes que eles se tornem as próximas vítimas.

O roteiro de Trauma é uma bobagem e a revelação do assassino é uma das mais chocas do universo do giallo. Tem ainda uma subtrama de um moleque irritante, vizinho do misterioso assassino e que insiste em invadir a casa do criminoso. 

Dario Argento teve dificuldades nas filmagens, tendo que ‘polir’ certas cenas, que seriam consideradas brutais demais para o gosto norte-americano, há até uma pequena perseguição de carros, coisa que os yankees amam. Outro revés foi o diretor não poder contar com a banda Goblin na trilha sonora, os produtores exigiram uma trilha mais convencional, e assim a música ficou a cargo de Pino Donaggio, colaborador habitual de Brian De Palma.

Apesar de diluído, a assinatura de Argento é identificável aqui, seja em belos travellings, no (ab)uso da câmera subjetiva representando a visão do assassino, seja nos ângulos inusitados, seja no elenco irregular. O protagonista Christopher Rydell tem zero carisma, e apesar do elenco de apoio ter nomes de peso como James Russo e o íconico Brad Dourif, temos também o coppoliano Frederic Forrest, francamente caricato (reza a lenda que ele e Piper Laurie passaram as filmagens toda rindo de deboche, achando tudo aquilo ridículo).

Asia Argento tenta passar a imagem da garota frágil, e nos passa a impressão de que está constantemente chapada. A atriz mais tarde revelaria que filmar a cena de nude, em que exibe os seios, diante de seu pai foi traumatizante para ela. A moça mais tarde revelaria também que durante as filmagens nos EUA teria traído seu namorado italiano. A atriz teria papado o ator  Christopher Rydell, um eletricista que fazia parte do set de filmagem e um DJ de uma balada.

Aliás, a personagem anoréxica de Asia foi inspirada em sua meia-irmã Anna, filha de sua mãe Daria Nicolodi, que aparece no filme, dançando nos créditos finais, com sua silhueta esquelética. Curiosamente Anna faleceria em um acidente automobilístico.

Não posso deixar de citar a maquiagem do Mestre Tom Savini, que deve ter se divertido criando as cabeças decapitadas para o filme.

Como um giallo, que deveria ter mais gosto de hambúrguer que de espaguete, Trauma é um divertimento bem passável, mas dentro da filmografia de Dario Argento foi o começo do declínio na carreira do Mestre.

Para bem ou para o mal, vale uma conferida.


 

 

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