★★★★
Interessante e obscura variação do tema do vampirismo.
Em uma região europeia de alguns séculos atrás, a população
local sofre com a dominação de uma horda de nobres vampiros, liderados por um
conde (Paul Albert Krumm).
As criaturas chupam os sangue dos campônios noite e dia –
vale lembrar que esse negócio de o sol matar vampiros foi criado por Murnau em Nosferatu,
e foi uma onda que pegou.
Um comitê de ‘velhos’ de uma aldeia planejam reunir a
população para invadir o castelo e acabar com as criaturas. Porém, primeiro
resolvem mandar alguém para invadir o castelo, ver a localização mais fácil
para invadir e quantos vampiros habitam lá. Para essa missão francamente
suicida é escolhido o jovem Jonathan (Jürgen Jung).
Para chegar até o castelo, nosso protagonista terá que fazer
uma viagem onde encontrará ladrões de estrada, uma bruxa, uma população temerosa
em estado de miséria, em cenários praticamente apocalípticos, cadáveres, entre outras peculiaridades.
Estreia na direção e roteiro do bávaro Hans W. Geissendörfer, que depois migraria para a TV. Embora os créditos revelem ser baseado em Drácula de Bram Stoker, na verdade a muito pouco do livro aqui – como a famosa cena homoerótica do vampiro correndo suas noivas para ficar com Jonathan só para ele. Sendo assim, pode-se dizer que é uma versão muito livre do material literário.
O próprio vampiro não é chamado uma vez sequer de Drácula, tratado
apenas como o “Conde”, a própria caracterização do ator Paul Albert Krumm, com
a franja pro lado e com a impostação de voz, lembra mais Adolf Hitler que Bela
Lugosi e Christopher Lee, obviamente que foi deliberado, só faltou ao vampiro o
bigode tipo escovinha. E o personagem-título, seria uma referência ao agente imobiliário Jonathan Harker do livro de Stoker?
Jonathan também é vendido como uma versão política do mito
do vampiro. Ora, ao contrário das lendas europeias, onde a criatura sugadora de
sangue geralmente é um aldeão que retorna do túmulo para atacar seus semelhantes,
o vampiro como metáfora da nobreza sanguessuga já existia antes de Bram Stoker
e Karl Marx, basta ver em obras como O Vampiro de John William Polidori, publicado originalmente em 1819. É praticamente
um fetiche romântico.
E embora aqui o viés político seja por demais evidente, não
chega ao nível panfletário do interessante Hanno Cambiato Faccia (1971) de
Corrado Farina, aonde o vampirismo vem de um empresário capitalista
interpretado por Adolfo Celi. Até a Hammer, ao colocar seu mais ilustre
personagem nos dias atuais, transformou o Conde Drácula de Christopher Lee num
megaempresário de uma multinacional em Os Ritos Satânicos de Drácula (1973)
de Alan Gibson. É a burguesia substituindo a nobreza, o ideal da revolução
francesa tardou, mas chegou aos filmes de vampiro.
Voltando a Jonathan, se suas pretensões políticas não
apresentam nada de novo, o mesmo não dá para dizer da condução do filme, com
uma fotografia de bela plasticidade, o filme alcança momentos de uma beleza
poética e hipnotizante, com a ajuda da trilha sonora. Alguns cenários são bem interessantes, como o
interior do barraco onde mora a bruxa e um corcunda demente, com as paredes
decoradas com dezenas de crucifixo de cabeça pra baixo. O clímax com os
vampiros acossados pelo povo, numa demonstração de eficiência da revolta
popular, também é marcante.
Belo e poético, Jonathan merece ser resgatado do ostracismo.
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