★★★★
A prova de que vivemos em um mundo injusto é o fato de David
Berlatsky ter realizado apenas este belo The Farmer. Pior, o filme ter sido
um fracasso na época e caído no esquecimento completo até ser resgatado do limbo
recentemente.
O filme se passa na década de 1940, onde encontramos Kyle
Martin (Gary Conway, em papel que tinha sido planejado para Clint Eastwood), um
soldado voltando para casa, depois de ter passado uma temporada nas trincheiras
europeias por causa da segunda guerra Mundial. Ele esta regressando para sua
terra, em um trem, quando arranja uma briga em um vagão com outros soldados, ao
defender um soldado negro. Nosso protagonista é espancado e expulso do trem em
movimento. Sujo, machucado e rasgado, ele tem de fazer o resto do percurso a
pé.
Esta introdução apresenta a índole do personagem principal, um cara durão e ani-racista convicto.
Ao chegar na fazenda de seu pai, encontra o local em ruínas,
seu pai morto, e quem mora ali é apenas o capaz negro, o velho Gumshoe (Ken
Renard).
Kyle pretende tocar a fazenda como pode, mas as coisas só
pioram, com o banco hipotecando e querendo tomar a propriedade.
Certa noite, o ex-soldado salva um homem de um acidente de carro.
Este homem é Johnny O’ (Michael Dante), um gângster da cidade, que se espanta
do fato de Kyle ter usado sua farda e sua estrela de prata (uma condecoração
ganho na guerra) em um espantalho. O que mostra toda a desilusão do
protagonista com a guerra.
As coisas ficam dramáticas quando Passini (George Memmoli),
um outro chefe da máfia, e o verdadeiro vilão da história, cega Johnny O’ com
ácido.
O mafioso cego faz uma proposta para Kyle, 50 mil dólares se o soldado acabar com a gangue de Passini (dinheiro, aliás, que Johnny 'roubou' de seu rival numa tramoia envolvendo apostas em jogos). Kyle reluta, perguntando porque o mafioso não contrata um profissional, Johhny diz que ele é um profissional. O gângster retruca: “Quantos caras você matou pela estrela de prata? (...) Porque seu país pediu para matar alguns alemães, talvez fazendeiros como você. Conte-me. Diga que é errado matar alguns canalhas que nunca serão condenados”. Não embarcando nesta retórica, nosso protagonista continua hesitando.
E como se não bastasse os rivais cegarem Johnny O’, Kyle fura
o olho de seu novo amigo, papando a namorada dele, a bela e durona Betty (Angel
Tompkins).
Só depois que o banco resolve finalmente tomar a fazenda, um
capanga seboso de Pasini, estupra Betty, mata Gumshoe e toca fogo no celeiro, é
que nosso (anti)herói talarico resolve acabar com a
gangue do vilão, e assim unindo o útil ao agradável: colocar as mãos nos 50 pacotes e ao mesmo tempo
realizar a desejada vingança, mostrando que se meteram com o caipira errado.
O ato final garante tiros, momentos sangrentos e um a plot twist marcante.
O filme carrega mensagem anti-guerra, anti-racista e anti-sistema (os bancos só tão aí para ferrar com os pobres). Tem como se mais legal que
isso? Talvez o contexto da época, com os EUA ainda impactados pela derrota no
Vietnam, explique o fracasso e ostracismo desta obra.
Enxuto e bem conduzido, é um belo trabalho de David Berlatsky,
que teve créditos em mais de três dezenas de filmes, e merecia dirigir mais
filmes. Como não rolou, que façam justiça e assistam esta pérola obscura.
Curiosidade: George Memmoli, que interpreta o vilão, se
machucou durante as filmagens, e assim não pode fazer o papel do passageiro
nervoso de Taxi Driver, papel que acabou sendo interpretado pelo diretor
Martin Scorsese.
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