★★★★1/2
“(...)
os verdadeiros nazistas comandam sua escola / eles são técnicos, empresários
e policiais / em um verdadeiro quarto reich você será o primeiro a ir”.
Este trecho da clássica canção punk Nazi Punks Fuck Off do Dead Kennedys
se encaixa com perfeição no conceito de Soft & Quiet, que não
tem nada de ‘Soft’ e muito menos de ‘Quiet’ – Obs.: é preciso deixar claro que
a canção supracitada NÃO está no filme, citei apenas para ilustrar minha explanação
pobre. E já avisando meus dois ou três leitores que o texto terá alguns
spoilers.
E no
apagar das luzes de 2022 que surge este soco definitivo, um recorte perturbador
sobre discurso de ódio. Marcando a estreia na direção de Beth de Araújo, nascida
nos EUA, de pais brasileiros, o filme trás um tema relevante.
Quando
as mulheres se juntam a primeira surpresa surge quando Emily mostra a torta que
levou para a reunião, enfeitada com uma suástica! Logo a reunião se revela um
ninho de neofascistas, com a mulherada branquela divagando, dando seus
depoimentos pessoais contra imigrantes, negros, judeus, feministas... uma das
mulheres inclusive, que está grávida do quinto filho, revela que seu pai foi
presidente interino da KKK de Nebraska, e que ela se criou naquele meio.
Quando
o padre da paróquia, que provavelmente não sabia do conteúdo da reunião das
moças, as expulsa, com ameaça de denunciá-las, algumas vão embora, mas outras
resolvem continuar a reunião na casa de Emily.
Para
dar um susto nas irmãs, Emily, com a ajuda relutante de seu namorado (Jon
Beavers) e de suas amigas, partem para a casa das imigrantes, no intuito de
lhes roubar o passaporte, mas as donas da casa aparecem e viram refém daquele
grupo de domésticas enlouquecidas, e a coisa sai do controle completamente. Com torturas, abusos e que terminará, obviamente, de forma trágica.
O
filme todo teria sido rodado como take só, à moda de Festim
Diabólico de Hitchcock (embora esse tenha sido realizado em takes, disfarçados pela montagem), o que exigiu um tour de force não só da
fotografia e do elenco, que está fantástico. Eles teriam rodado todo filme quatro vezes, até chegar ao resultado final. Bom, pelo menos é o que divulgaram....
Do
grupo de mulheres, a mais cruel se revela uma ex-presidiária (Olivia Luccardi),
que entrou no grupo por ser uma funcionária de Kim.
Esta
variação do subgênero home invasion também nos remete ao trabalho do
austríaco Michael Haneke e seu Violência Gratuita.
O
único senão fica para a cena final, implausível e parece ter sido colocado para
uma concessão, mas isto é apenas um pequeno detalhe.
Impactante
e brutal. Com um tema atualíssimo, trazendo suas dondocas nazistas, Beth de Araújo se revela um nome a se
prestar atenção. Um dos grandes filmes do ano. Tão repulsivo quanto necessário.
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