O Ciclone (Cyclone, México, 1978) – René Cardona Jr

★★★

Para quem não sabe o clã Cardona é a famiglia do exploitation mexicano, se juntar as três gerações (Cardona, Cardona Jr e cardona III) soma mais de trezentos filmes só na cadeira de direção! Sem falar em produção, roteiro, interpretação, etc... e passearam por todos os tipos de subgêneros, do terror ao sci-fi vagabundo, passando pela lucha libre e, claro, disasters movies.

Dito isto, fico imaginando uma situação hipotética: estamos no final da década de 70 e o Cardona Jr. Pensando: “qual será meu próximo filme apelativo? Já sei! Vou fazer um disaster movie com uma coletânea de tudo que é desgraça possível”, o cara deve ter pesando isso ao gerir este Cyclone.

Aqui temos um avião, um barco pesqueiro e um barco de viagens turísticas, os três se embretando em um tornado violento. Os sobreviventes do avião e do barco pesqueiro se somam ao barco turístico, e galera fica neste último, sem combustível, comida e o mínimo de água potável. Imagino como deveria se a lista de Cardona Jr. do que deveria ter no filme: avião caindo no mar, tsunami, devastação geral, gente passando fome e sede, um animal sendo morto para alimentar a galera (a cena mais célebre de todas, quando matam um cachorrinho), canibalismo, não falta nem mesmo um parto em alto mar e um clímax final com um cardume de tubarões se alimentando dos sobreviventes infelizes – como esse tipo de produção se alimenta de lendas, dizem que atiraram cadáveres reais para alimentar os peixes, acho que é lorota, mas deixo aqui o registro.

É quase uma versão marítima de Sobreviventes dos Andes, aquela famosa tragédia que chega a ser citada aqui e que virou filme em 1976, dirigido pelo Cardona pai e escrito e produzido pelo mesmo Cardona Jr. Daqui – a mesma tragédia renderia um filme hollywoodiano de 1993, Vivos de Frank Marshall.

Seguindo a fórmula dos disaster movies norte-americanos, que contavam com elenco estelar, esse aqui, com orçamento muito mais humilde, tem várias caras manjadas do cinema de gênero, como Arthur Kennedy (Não se Deve Profanar o Sono dos Mortos), Carroll Baker (dos gialli do Umberto Lenzi como Spasmos e Paranoia), Lionel Stander (Era uma Vez no Oeste, Milano Calibro 9), Hugo Stiglitz (de... O Sobrevivente dos Andes!), duas atrizes que depois apareceriam em Zombie de Lucio Fulci: Stefania D’Amario e a grega Olga Karlatos, que faz a moça grávida. Além de contar no elenco com o Cardona pai e o pequeno Cardona III.

Você pode ficar chocado, enojado, ofendido, mas uma coisa é certa, com quase duas horas de duração, não há tédio nesta compilação de desgraças.