O Enigma da Rosa (Bajo la Rosa, Espanha, 2017) – Josué Ramos

 ★★★★★

Uma família padrão burguesa espanhola sofre com o sequestro da filha pequena.

O pai (Pedro Casablanc), a mãe (Elisabet Gelabert) e Alex (Zack Gómez), o filho mais velho, estão profundamente abalados. Até que em uma noite recebem a visita de um sinistro e misterioso homem de preto (Ramiro Blas) que alega estar em posse da menina, e que esta só será libertada se um dos familiares confessar um segredo específico, caso ao contrário, ao amanhecer, a garota será morta.



Como o homem de preto não revela exatamente o que quer saber, a família começa a revelar seus podres, tendo que pagar por cada pecado na mesma moeda, o que leva o filme a incríveis consequências.

A obra começa com carinha daqueles thrillers assépticos de Supercine, mas, no seu desenrolar, vai se transformando num pesadelo surreal. A imagem límpida e idônea da bela família tradicional vai se desmoronando. Com direito a brutalidade física e psicológica. Roubo, desonestidade, ataques homofóbicos estão na cardápio de segredos, assim como humilhações sexuais e violência extrema estão na lista de corretivos. 

Eu poderia citar Teorema de Pasolini, da dissecação da hipocrisia moral burguesa de Buñuel, do cinema extremo grego (poderia ser um Jogos Mortais dirigido pelo Yorgos Lanthimos? Aqui não falta nem dentes sendo extraídos no seco), ou uma versão paella dos filmes de vingança sul-coreanos? As referências dançam na minha mente, mas nada se iguala ao impacto que o filme deixa depois de visto.

Perturbador, brutal e inquietante, Bajo la Rosa (a explicação para o título original é bem interessante) se vale de um elenco bem afinado e de uma trama muito bem urdida, em que as peças de um quebra-cabeça maldito.

O diretor novato, Josué Ramos (em seu segundo longa) conduz a obra com segurança e precisão, sem encheção de linguiça, praticamente minimalista, o o interior da casa é o cenário de quase todo filme. Tudo aqui tem seu propósito. 

E o filme ainda tem o golpe baixo de, na cena mais brutal de todas, usar como trilha sonora, o Inverno de Vivaldi, uma das composições mais sublimes do mundo. 

Bajo la Rosa é um filme que deve ser visto. Daquelas obras impactantes que vai deixar tua mente martelando por horas depois da exibição.

Mais do que uma grata surpresa, é umm dos melhores filmes dos últimos anos.  



 

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