Pleasure (Suécia/Holanda/França, 2021) – Ninja Thyberg

★★★

Primeiro longa da diretora sueca Ninja Thyberg (baseado em um curta homônimo seu de 2013) , Pleasure tem criado polêmicas e celeumas, por onde tem passado (leia-se festivais de Cannes e Sundance).

A trama é um fiapo. Bella (a estreante Sofia Kappel, numa interpretação corajosa) é uma sueca de 19 anos que vai para os EUA com um objetivo, vira a nova grande estrela do pornô mundial. Claro que as ambições da moça fará com que ela passe por maus bocados e até abandone velhas e sinceras amizades.

Uma coisa que li antes de ver o filme é que Ninja (que nome bacana), que se autodenomina uma velha ativista anti-pornografia, fez uma denuncia ao pornô, com todo seu pacote de machismo, misoginia, exploração, etc...  cheio de nudes e sacanagem – isto me lembra o Ruggero Deodato afirmando que fez Cannibal Holocaust como uma crítica a violência e sensacionalismo da mídia, só que abusando da violência e sensacionalismo na tela. Enfim, a hipocrisia.



Vamos aos fatos, embora tenha close de vagina e caralhos duros pipoquem na tela, o filme não tem nenhuma cena de sexo explícito (pelo menos no corte que eu vi, vai saber se não existe uma versão ‘uncut’ escondida em alguma gaveta por aí), logo a acusação de abuso de sexo não confere. Neste ponto o romeno Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental ganha na ousadia. E nenhum momento o filme mostras as filmagens como algo agradável e excitável (ao menos que você seja um sádico, imagino eu).

Quem estava esperando um Boogie Nights (1998) de Paul Thomas Anderson, que é uma visão romanceada dos loucos bastidores do cinema pornô dos loucos anos da virada dos anos 70 para 80, vai quebrar a cara. Pleasure lembra mais Showgirls, aquele totem kitsch do Paul Verhoeven, trocando o universo das dançarinas de Las Vegas pelo povo do vuco-vuco.

Para alcançar seu intento, Bella precisa conseguir o maior de agentes de atrizes pornôs dos EUA: Mark Splieger, o próprio interpretando a si mesmo!

Para chamar a atenção do agente a sueca sapeca vai atrás de experiências como vídeos sadomasoquistas, e uma dupla penetração anal, com dois negros bem dotados. Quanto a isto vale lembrar um diálogo entre Bella e Bear (interpretado por Chris Cock, sim, uma versão pornô do Chris Rock!). O cara explica para a jovem que é considerado o fetiche mais extremo dos EUA: sexo inter-racial. "Isso parece racismo", comenta a jovem. "Se parece... é porque é racista" comenta Bear. 



A escalada de Bella ao estrelato mais parece um melodrama com cenas picantes, mas tem cenas que se sobressaem, como a cena em que ela vai fazer um vídeo de sexo violento com dois caras. Resultando em horas de humilhação, violência e estupro. É uma cena realmente perturbadora. A segunda cena é quando Bella vai fazer uma cena com Eve (Evelyn Claire), uma garota egocêntrica e ao qual a sueca tem ressentimentos. Nesta cena, Bella ao penetrar Eve com dildo belt, despeja na sua rival, toda a raiva, misoginia e machismo que ela mesma sofria. Uma cena bem interessante de como a vítima pode se torna algoz. 

No mais o filme é interessante, mas se saiu um pouco prejudicado pelo final abrupto. E ainda, se a intenção era realmente detonar a indústria pornô - e não que ela não seja realmente asquerosa, os clichês da escalada da gota ambiciosa atrapalha um pouco a denúncia, pois a caminhada de auto degradação, decisões erradas e afastamento de pessoas próximas acontecem em tudo que ambiente, é só reparar. Poderia ser na indústria pornô, poderia ser no escritório de alguma empresa multinacional. 

Uma força do filme é ter utilizado atores do cinema pornô no elenco, o que dá verossimilhança e credibilidade. 

Dito tudo isso, mesmo que não alcance suas ambições de denúncia do mundo pornô plenamente, Pleasure é uma boa surpresa, e merece ser conferido.



 

 

 

 

 

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