Drácula (Count Dracula, Reino Unido, 1977) - Philip Saville

★★★

Fazia anos que estava louco para ver, e finalmente consegui assistir esta cultuada, e mais falada do que propriamente vista, versão para a tv do clássico livro de Bram Stoker, muito elogiado pela sua fidelidade ao material e pela atuação do elenco, principalmente de Louis Jourdan como o vampiro mais famoso do mundo. Realizado pela BBC de Londres, o telefilme foi ao ar em 22 de dezembro de 1977 na íntegra, com suas duas e meia de duração, para só depois ser reprisado como minissérie, fatiado em três capítulos. Eu assisti em dois arquivos, a primeira parte de uma hora e dez e a segunda com uma hora e vinte.

A história é conhecida. Empregado de uma agência imobiliária, Jonathan Harker (Bosco Hogan) precisa ir até os cafundós da Transilvânia, tratar dos tramites legais da venda de um imóvel na Inglaterra. O detalhe é que o cliente é um nobre excêntrico e recluso, temido pelos habitantes da região, que atende pelo nome de Conde Drácula – e se você morou no planeta Terra nos últimos 100 anos, sabe o que esse nome acarreta.

O estranho anfitrião de Harker tem hábitos estranhos, aparentemente não se alimenta, só anda pela casa a noite, não tem criados, parece viver em concubinato com três belas garotas, tão esquisitas quanto ele – aqui a famigerada cena de Drácula oferecendo um bebê para alimentar as moças, a cena foi cortada quando da primeira exibição do telefilme, e ficou vinte e cinco anos trancadas nos cofres da BBC, sendo incluída posteriormente, no fim das contas, é uma cena jogada rapidamente.

Sem falar que ele, para pavor de Harker, rasteja pelas paredes externas do castelo, como no livro, aqui aos pulinhos um tanto ridículos, mas ao contrário do que falaram por aí, não é a primeira vez que essa peripécia é registrada em imagens, em Scars of Dracula (1970) da Hammer, Christopher Lee já bancava o Homem-Aranha. 


Como se não bastasse tudo isso, o Conde tem as palmas das mãos peludas – uma mudança do romance de Stoker, Drácula não começa velho, e vai rejuvenescendo a medida que se alimenta de sangue e vai para a Inglaterra (como visto na versão de Coppola), aqui ele está sempre com a mesma aparência, já as palmas peludas é fiel ao livro, o que nos leva a velhas piadas sobre onanismo, mas deixa pra lá.

Seguindo o roteiro de praxe. Drácula mantém Harker prisioneiro em seu castelo, enquanto se dirige para a ilha britânica, ávido por colocar suas presas nos pescoços da noiva de seu prisioneiro, Mina (Judi Bowker) e sua irmã Lucy (Susan Penhaligon) – outra mudança do romance original, as duas garotas, que no livro são amigas, aqui são condicionadas a serem irmãs.


O resto já se sabe, Drácula transforma Lucy em uma vampira, enquanto pretendentes dela, o médico John Seward (Mark Burns) e o texano Quincey P. Holmwood (Richard Barnes – na verdade este personagem é uma fusão de dois personagens do livro), se unem ao médico holandês Abraham van Helsing (Frank Finlay), a Jonathan Harker, já de volta a Inglaterra e Lucy, para combater o vampiro.

Agora vamos aos fatos. Count Dracula envelheceu pra caramba. O filme tenta se afastar da apelação erótica e violenta da Hammer, assim como também não dá para comparar com o visual kitsch-carnavalesco-pré-gótico-emo da versão de Coppola, eles tentaram dar um visual mais sóbrio (pero no mucho), mas se algumas cenas externas, em cenários naturais, são belas, algumas cenas internas são prejudicadas por cenários com cara de cenário, A captação de imagens lhe dá um ar de telenovela. Parece que estamos vendo uma novela global de época das 18 horas (a famigerada ‘novela das seis’), com diferencial de ser falado em inglês e obviamente filmado nos anos de 1970. Alguns efeitos especiais são ridículos e simplórios. Por exemplo, a viagem de navio de Drácula até a Londres, de longe a melhor passagem do livro, aqui é tratada rapidamente, com uma ridícula cena de um navio em miniatura em mar de plástico, nem os turcos fariam melhor (pior). Outro recurso medonho é usar alguns closes do vampiro em negativo, com detalhes em vermelho rubro. OK, em Nosferatu, as cenas em negativo da carruagem na floresta, dão um clima bacana, mas aqui o efeito soa apenas cafona demais (tão pensando que Murnau é bagunça?).

Do elenco, a tão elogiada performance de Louis Jourdan é correta, elegante e ameaçadora, mas lhe falta aquela imponência de Christopher Lee ou o carisma cafona de Bela Lugosi, eu o colocaria no mesmo nível do Frank Langella, que interpretaria o vampiro dois anos depois 9e que sempre me pareceu ‘latino’ demais para o papel). Já Susan Penhaligon como Lucy vai no esquema ‘bonitinha, mas ordinária’ até virar vampira e dá aquela canastrada, as cenas da moça querendo parecer selvagem, na verdade parece querer imitar a Linda Blair em O Exorcista. Os que mais gostei foi de Jack Shepherd fazendo um alucinado Reinfield e o melhor de tudo: Frank Finlay como van Helsing, ele aparece apenas na segunda metade da obra, mas dá um sopro de vida – longe da canastrice exagerada de Anthony Hopkins ou da dureza puritana de Peter Cushing, Finlay dá ao seu personagem uma humanidade inesperada, quase paternal, com seus semelhantes. A melhor cena do filme é quando van Helsing e Mina encontra as noivas de Drácula na floresta.

Longe de ser a obra-prima cantada aos quatro ventos por muitos (que, desconfio, esteja metido neste meio, pessoas se quer viram ele), ainda assim Count Dracula vale a maratona.



                                

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