Conde Drácula (Nachts, wenn Dracula erwacht / Count Dracula / The Nights of Dracula, Espanha/Alemanha ocidental/Itália/Liechtenstein/Reino Unido, 1970) – Jesus Franco
★★★
Imaginem o Mestre
do exploitation europeu, o folclórico Jesus Franco, fazendo a sua versão do
romance Drácula? Tendo ninguém mais, ninguém menos que o próprio Christopher
Lee no papel-título. E tem mais: Klaus Kinski como Renfield, Herbert Lom como
Professor Van Helsing, Maria Rohm como Mina e Soledad Miranda como Lucy. Sem
falar em Bruno Nicolai, maior parceiro de Morricone, na trilha sonora e
montagem de... er... bem... Bruno Mattei (esquece essa).
Parece apetitoso,
crocante e saboroso? Enfim, delicioso, não? Em tese sim, mas o filme fica aquém
das expectativas.
Fico imaginando
ainda a confusão que gerou no Brasil, levando em conta que no mesmo ano de
1970, Christopher tinha feito para a Hammer Scars of Dracula, que aqui saiu
como O Conde Drácula (só recentemente foi lançado em DVD como As Cicatrizes
de Drácula).
Atacado e
aprisionado no castelo, Harker consegue escapar, e para na clínica psiquiátrica
administrada por Van Helsing, como paciente.
Harker recebe a
visita da noiva Mina e sua amiga Lucy. Drácula ronda o local e faz de Lucy sua
vítima. O estado doentio da moça faz com que chamem seu noivo, Quincey (Jack Taylor),
aliás, esta é a primeira adaptação para o cinema que usa esse personagem do
livro de Stoker, que em sua origem era um texano, aqui não tem uma origem
definida.
Harker, Van Helsing
e Quincey unirão forças para enfrentar o lendário vampiro.
Só para terem uma ideia,
em uma cena, a carruagem passa pela floresta e é cercada por cães da raça
pastor alemão, no lugar dos tradicionais lobos – provavelmente é o que deu para
arranjar com o orçamento (poderiam tentar tapear com uns huskies, não?).
Christopher Lee
alegava que estava cansado de interpretar o vampiro, o que não impediu de repetir
o papel em quatro filmes no ano de 1970: este, a comédia Uma Dupla em Sinuca dirigida por Jerry Lewis e duas produções da Hammer: O Sangue de Drácula e o
supracitado O Conde Drácula / As Cicatrizes de Drácula. Mesmo cansado Lee
aceitou fazer este filme porque foi enganado pelo Jesus Franco, que convenceu o
ator de que esta seria versão mais fiel ao livro de Stoker.
Realmente, a ideia de um vampiro envelhecido que rejuvenesce se alimentando de sangue, veio do livro, artifício que seria usada depois na versão emo carnavalesca do Coppola. Porém, a diferenças muito significativas aqui. Como, por exemplo, isolar toda a ação do filme apenas no castelo do vampiro e na clínica de Van Helsing.
Aliás, o Drácula
rejuvenescido de Christopher Lee, com um longo bigode negro, parece o Drácula
interpretado pelo Rubens de Falco na novela Um Homem Muito especial, escrita
por Rubens Ewald Filho e Jayme Camargo.
Embora não tenha
gostado do resultado, Christopher Lee costumava dizer que deu o seu melhor neste
Drácula. A verdade é que temos aqui um Christopher Lee contido, longe da figura
imponente dos filmes da Hammer. Uma pena.
A própria direção
de Jesus Franco, que aqui faz sua costumeira participação como ator, no papel
de um empregado na clínica de Van Helsing, está contida, eu diria até tímida. Longe
dos arroubos surreais, do excesso de nudez feminina e do seu ator fetiche
Howard Vernom (que deveria estar filmando outra porcaria qualquer, se bobear do próprio Franco, que fazia mais de um filme ao mesmo tempo), elementos
que marcaram seu trabalho neste período, pode-se afirmar que esse “Conde
Drácula” é um dos seus trabalhos mais acessíveis para quem quiser adentrar no
universo do diretor espanhol, por outro lado, para quem já conhece e admira,
este filme é francamente decepcionante. Da assinatura dele temos apenas os
excessos de zooms e closes, usados indiscriminadamente.
Também foi o
primeiro papel relevante de Soledad Miranda, em 1970, a atriz espanhola rodou
oito trabalhos com Franco (entre eles os icônicos Ela Matou em Êxtase e Vampyros
Lesbos) e acabou alçada a condição de musa do diretor. Mas infelizmente, no
mesmo ano, Soledad morreria em um acidente automobilístico em Portugal.
Já Klaus Kinski
como Renfield não tinha muito que fazer, sem uma linha de diálogo, ele ficava
apenas gesticulando e gritando, e, segundo Jesus Franco, as moscas que comia
nas filmagens eram insetos verdadeiros! Kinski depois interpretaria Drácula em Nosferatu - O Vampiro da Noite de Werner Herzog e no bagunçado Drácula em Veneza (Nosferatu in Veneza), uma produção desastrada que passou pela mão de alguns diretores, entre eles o próprio Kinski, que segundo o Luigi Cozzi, que também dirigiu algumas cenas, o astro praticamente não obedecia nenhum diretor e só fazia na frente da câmera o que lhe desce na telha.
A primeira opção para o papel de Van Helsing do
diretor era ninguém menos que Vincent Price! Mas não conseguiu por causa do contrato de
exclusividade do astro com a produtora AIP. A segunda opção era Dennis Price,
que não pode por motivos de doença. Ficamos assim com um apático Herbert Lom.
Para completar o
elenco temos o suíço Paul Muller, veterano do cinema exploitation, como o Dr.
Seward.
Abaixo das
expectativas, ainda assim Conde Drácula merece uma espiada, nem que seja a
título de curiosidade.
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