★★★★
Quando se fala do cinema do diretor grego, naturalizado
francês, Konstantinos Gravas, mais conhecido como Costa-Gravas, logo vem a
mente filmes políticos de esquerda, um cinema de denuncia e críticas sociais,
como Z, A Confissão, Estado de Sítio, etc, etc, etc... agora, é curioso
ver que seu primeiro longa é um bem engendrado filme de mistério e suspense,
muitas vezes comparado com o giallo, que naquele momento surgia na Itália,
pelas mãos de Mario Bava.
Crime no Carro Dormitório, começa com um grupo heterogêneo
de passageiros, literalmente amontoados em beliches, num vagão dormitório de
segunda classe. Ao chegar na estação de Paris se constata que uma das
passageiras está morta, a polícia começa a investigar, logo os outros
passageiros que estavam no vagão começam a aparecerem mortos também.
Um garoto que estava clandestinamente no vagão (Jacques Perrin)
e uma jovem passageira (Catherine Allégret) com quem engatou um romance poderão
ser as próximas vítimas.
Baseado num romance de Sébastien Japrisot, com roteiro do
próprio Costa-Gravas, Crime no Carro Dormitório é um mistério bem bolado, que
no fim das contas, se não é uma obra política, como os filmes posteriores do
diretor, carrega uma preocupação moral, visto a banalização do assassinato na
motivação dos crimes, ao final da trama.
Muita gente chama a atenção com a semelhança deste filme com
o giallo, lembrando que em 1965, Mario Bava já tinha realizado Olhos
Diabólicos e As Três Máscaras do Terror, ambos de 1963, que junto com Seis
Mulheres para o Assassino (1964) formariam os pilares do então nascente subgênero
do mistério italiano. Há quem diga que Costa-Gravas não tinha visto os filmes
de Bava ainda, então estas semelhanças seriam meramente clarividentes? Claro
que não, é preciso olhar além da superfície. Bava e Gravas beberam da mesma
fonte, isto sim, os chamados ‘krimi’ alemães. Uma série de filmes de mistério,
rodados na Alemanha Ocidental (quase sempre se passando por Londres) e
inspirado em livros do escritor Edgar Wallace.
Vejamos, alguns aspectos aqui encontramos nos krimis, além, é
claro, dos assassinatos misteriosos, temos um assassino que usa um sobretudo e
luvas pretas (que acabaria sendo incorporado ao giallo), a fotografia em
preto-e-branco com ares noir e a trilha ‘festiva’ de Michel Magne, na mesma linha das
composições de Peter Thomas para os filmes de Harald Reinl (o pai dos krimis
alemães) em filmes como Der Unheimliche Mönch (1965) ou Alfred Vohrer em Der
Hexer (1964). Dica: procurem as trilhas de Peter Thomas no YouTube e
divirtam-se!
Crime no Carro Dormitório também conta com um elenco
secundário de encher os olhos: Michel Piccoli, Simone Signoret, Yves Montand,
Jean-Louis Tringnant. É mole ou quer mais?
Bem escrito, bem dirigido, bem filmado, bem interpretado. É tão legal que
você logo esquece que visto hoje, parece um peixe fora d´água da filmografia
do politizado Costa-Gravas.
Excelente!
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