Woodlands Dark and Days Bewitched: A History of Folk Horror (EUA, 2011) - Kier-La Janisse

★★★★

Produção da produtora Severin Films para o Shudder que tenta mapear o chamado folk horror, que como o próprio nome indica é um termo que designa filmes de horror com temas folclóricos ou ligados a algum folclore.

Sei que muita gente não gosta do rótulo ‘pós-horror’, também acho horrível, assim como acho tenebroso o tal folk horror por ser quase uma redundância, afinal a cultura do horror, do medo e do sobrenatural surgiu muito antes do advento do cinema e da literatura gótica e romântica, nas tradições orais, crenças e superstições. Criaturas como vampiros, lobisomens, Frankenstein (você não), múmias, fantasmas demônios, etc, etc, eram geralmente fruto de folclores de folclores regionais. Nem é questão de discutir quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, a gênese do horror vem do folclore. Então o folk horror poderia ser chamado de ‘pré-horror'.

Como tudo precisa de um começo, o documentário parte de três filmes britânicos, da virada dos anos 60 pra 70, que consideram primordiais ao folk horror: O Caçador de Bruxas (Witchfinder General, 1968) de Michael Reeves, O Estigma de Satanás (The Blood Satn’s Claw, 1971) de Piers Haggard e O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973) de Robin Hardy.

O documentário começa esmiuçando estes três filmes como parâmetros para o folk horror, daí vai percorrendo exemplares antes e depois deste triunviratro, até chegar aos filmes de Robert Eggers (A Bruxa, O Farol) e Ari Aster (Hereditário, Midsommar), ambos os cineastas responsáveis pela explosão do termo folk horror e, vejam só pós-horror.

O doc se fixa em dezenas de produções inglesas, tanto para o cinema como para a TV, com destaque para as adaptações de Lawrence Gordon Clark para obra do escritor britânico M. R. James. E depois na produção norte-americana. Dá umas pinceladas no folk horror ao redor do mundo, em países como Austrália, Japão (só o folclore no cinema de horror japonês mereceria um documentário próprio), república Checa, México até chegar no Brasil, com depoimentos de três dos maiores especialistas do cinema de horror aqui do país, os pesquisadores, Laura Loguercio Cánepa, Carlos Primati e o cineasta Dennison Ramalho (“Morto Não Fala”).

Fala-se muito pouco do cinema italiano aqui, tem depoimento do diretor Mariano Baino, e breves cenas de seu memorável Dark Waters (1993), citam Mario Bava e seu Black Sabbath, Giorgio Ferroni e seu A Noite dos Demônios (La Notte dei Diavoli), Brunello Rondi e seu Il Demonio. E a bela lembrança de Lucio Fulci com seu O Segredo dos Bosques dos Sonhos (Non si Sevizia um Paperino). Desculpe Dario Argento, você aqui ficou de fora.

Uma coisa interessante foi analisar certos filmes com o contexto político e social de sua época. E de temas contemporâneos, como a luta contra racismo e a ascensão do feminismo, influenciaram determinadas obras. Há quem critique essa 'politização', que o documentário deveria se focar mais nos arquétipos folclóricos e blablabla... quem reclama de uma contextualização sócio-politico-geográfico, mesmo como uma metáfora ao tempo contemporâneo que a obra foi realizada, e não exatamente na época em que a trama se passa, esses reclamões não entendem de expressão artística e nem de folclore, que como expressão popular, sempre haverá brechas para análises sócio políticas - desculpem-me pelo excesso de obviedades. 

Tem citações a filmes obscuros bacanas e que merecem serem conhecidos, como o iugoslavo Leptirica(1973) de Djordje Kadijevic e o estoniano November (2017) de Rainer Sarnet. Porém, fica óbvio que muita coisa legal é citado apenas rapidamente, ou ficou de fora mesmo. A prova da amplitude do conceito de folk horror dos realizadore é que aqui encontramos até cenas de Com 007 Viva e Deixe Morrer!

E se concordo ou não com ó rótulo de folk horror, isso fica irrelevante quando vejo enfileirado tantos filmes bacanas, com vários depoimentos de realizadores e pesquisadores do assunto.

Com mais de três horas, o documentário é fascinante e deixa aquele gosto de quero mais. O público médio pode achar tedioso e cansativo, principalmente pela longa duração (o mesmo povo que bate no peito de orgulho por maratonar série ruim). Agora, para os fãs do cinema de horror é um deleite.




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