★★★★
“Um homem é aquilo que ele pensa. Não se pode mudar isso”,
diz o protagonista, Dr. Braun, neste maravilhoso e obscuro exemplar da Nová
Vlna ou Czechoslovak New Wave, a nouvelle vague da hoje extinta Tchecoslováquia,
que em 1993 se dissolveu em dois países: República Tcheca e Eslováquia.
Estamos na Segunda Guerra Mundial e a região da Tchecoslováquia
(então divida em Boémia e Moravia) está tomada pelos nazistas.
Um dia, um morador do mesmo prédio que Braun, esconde um
homem baleado pelos nazistas, e pede para que o ex-médico retire a bala.
Relutante, nosso protagonista faz a operação caseira, mas o paciente, ao
acordar dará gritos de dor, o que denunciará os ocupantes do apartamento. É
preciso morfina para silenciá-lo.
Braun continua relutante, há nesse momento um monólogo
primoroso do ator, no estilo “ser ou não ser” de Hamlet, em que outras coisas, vêm
o pensamento, “a morte é uma bagatela, quando não é a minha”. Com a consciência
pesada, e buscando sua identidade como médico, o judeu começa sua jornada noite
adentro, atrás da morfina. Ele parará num clube de jazz, num hospital
psiquiátrico, mas o grande problema são seus próprios vizinhos do prédio e o
temor da delação.
O título ..A Pátý Jezdec je Strach (...E o Quinto
Cavaleiro É o Medo) é uma referência direta aos quatro cavaleiros do Apocalipse
bíblico ( a saber seus ateus desgraçados: Peste, Guerra, Fome e Morte).
O diretor Zbyněk Brynych não é um nome badalado da Nová Vlna, como Miloš Forman (O Baile dos Bombeiros), Věra Chytilová (As Pequenas Margaridas), Jaromil Jireš (Valerie e a Semana das Maravilhas) ou Juraj Herz (O Cremador). E nem este filme é cotado em listas sobre as obras mais relevantes do cinema novo checo. O que o torna um diamante escondido.
Uma pena a obscuridade desta obra, que conta, além da interpretação magnífica de Miroslav Machácek, com uma belíssima fotografia em preto-e-branco, de influência do Expressionismo Alemão, com seus ângulos inusitados, momentos surreais, e que no geral traduz toda a sensação de medo e espionagem, com destaque para a claustrofóbica escadaria do prédio onde a trama se desenrola, tudo faz com que este filme se aproxime da obra do Mestre supremo da paranoia social, o escritor também tcheco (e judeu) Franz Kafka. Sem falar na peculiar trilha sonora e na bela direção.
Com um clima constante de pesadelo e perseguição, esta é uma obra sensível e, paradoxalmente, tocante e perturbadora. Merece e deve ser descoberta.
Excelente.
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