...A Pátý Jezdec je Strach / The Fifht Horseman is Fear (Tchecoslováquia, 1965) – Zbyněk Brynych

 ★★★★

“Um homem é aquilo que ele pensa. Não se pode mudar isso”, diz o protagonista, Dr. Braun, neste maravilhoso e obscuro exemplar da Nová Vlna ou Czechoslovak New Wave, a nouvelle vague da hoje extinta Tchecoslováquia, que em 1993 se dissolveu em dois países: República Tcheca e Eslováquia.

Estamos na Segunda Guerra Mundial e a região da Tchecoslováquia (então divida em Boémia e Moravia) está tomada pelos nazistas.

Braun (Miroslav Machácek) é um ex-médico judeu, proibido de seguir seu ofício pela ordem vigente, ele trabalha em um almoxarifado.   

Um dia, um morador do mesmo prédio que Braun, esconde um homem baleado pelos nazistas, e pede para que o ex-médico retire a bala. Relutante, nosso protagonista faz a operação caseira, mas o paciente, ao acordar dará gritos de dor, o que denunciará os ocupantes do apartamento. É preciso morfina para silenciá-lo.

Braun continua relutante, há nesse momento um monólogo primoroso do ator, no estilo “ser ou não ser” de Hamlet, em que outras coisas, vêm o pensamento, “a morte é uma bagatela, quando não é a minha”. Com a consciência pesada, e buscando sua identidade como médico, o judeu começa sua jornada noite adentro, atrás da morfina. Ele parará num clube de jazz, num hospital psiquiátrico, mas o grande problema são seus próprios vizinhos do prédio e o temor da delação.

As referências aos nazistas e a situação dos judeus são, com exceção das suásticas mostradas no começo e no final do filme, bastantes sutis. Sem precisar apelar explicitamente aobre os horrores do holocausto, ele se fixa na perseguição e cerceamento do cidadão comum. O filme serve como uma alegoria da repressão da Tchecoslováquia da Era da Cortina de Ferro.

O título ..A Pátý Jezdec je Strach (...E o Quinto Cavaleiro É o Medo) é uma referência direta aos quatro cavaleiros do Apocalipse bíblico ( a saber seus ateus desgraçados: Peste, Guerra, Fome e Morte).

O diretor Zbyněk Brynych não é um nome badalado da Nová Vlna, como Miloš Forman (O Baile dos Bombeiros), Věra Chytilová (As Pequenas Margaridas), Jaromil Jireš (Valerie e a Semana das Maravilhas) ou Juraj Herz (O Cremador). E nem este filme é cotado em listas sobre as obras mais relevantes do cinema novo checo. O que o torna um diamante escondido.

Uma pena a obscuridade desta obra, que conta, além da interpretação magnífica de Miroslav Machácek, com uma belíssima fotografia em preto-e-branco, de influência do Expressionismo Alemão, com seus ângulos inusitados, momentos surreais, e que no geral traduz toda a sensação de medo e espionagem, com destaque para a claustrofóbica escadaria do prédio onde a trama se desenrola, tudo faz com que este filme se aproxime da obra do Mestre supremo da paranoia social, o escritor também tcheco (e judeu) Franz Kafka. Sem falar na peculiar trilha sonora e na bela direção.

Com um clima constante de pesadelo e perseguição, esta é uma obra sensível e, paradoxalmente, tocante e perturbadora. Merece e deve ser descoberta. 

Excelente.  



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