Hansel e Gretel (Itália, 1990) – Giovanni Simonelli, Lucio Fulci

★★★

Primeiramente, não confundam esta produção picareta italiana com o hollywoodiano Hansel & Gretel (2013) dirigido pelo norueguês Tommy Wirkola (Dead Snow, The Trip). 

Entramos aqui naquele terreno lamacento que foi a fase final da carreira do Mestre Lucio Fulci. The Godfather of Gore, como era chamado, tinha entrado em um espiral de produções baixíssimas, seja como diretor, seja como diretor.

Pouco vistos e muito mal falados, ele produziu filmes como Massacre de Andrea Bianchi e co-dirigiu coisas como Il Fantasma di Sodoma, ao lado de Mario Bianchi e este Hansel e Gretel. Depois Fulci roubaria cenas destes e outros filmes e utilizaria no seu filme testamento (e um dos seus melhores) Um Gato no Cérebro, considerado o Fellini 8 ½ do cinema gore.

Falando sobre Hansel e Gretel, feito para a TV italiana, foi o único crédito como diretor do veterano roteirista, e autor do argumento aqui, Giovanni Simonelli. Fulci entraria apenas como produtor, mas acabou dirigindo algumas cenas, sem ser creditado.

Como muitos sabem, Hansel e Gretel são os nomes, no alemão original, de João e Maria. Aquelas crianças que se perdem na floresta e acabam na casa da bruxa, feita de doce. Fábula imortalizada pelos Irmãos Grimm. Logo se deduz que este filme seria uma versão moderna da história. Bem... acho que a intenção inicial até deveria ser, mas se perderam no caminho. De qualquer modo, a trama proposta por Simonelli não deixa de ser interessante.

Hanel e Gretel (interpretados pelos irmãos na tal vida real Massimiliano e Silvia Cipollone) é um casal de irmãos ainda crianças, que após brincarem no pátio da igreja local, resolvem voltar para a casa pela floresta. Mas os pimpolhos acabam sequestrados e levados para uma mansão no meio do mato.

Os sequestradores matam crianças para venderem seus órgãos.

De cara os traficantes de órgãos matam os irmãos, não sem deixar de mostrar um asqueroso aquário com tripas de crianças dentro.

Porém os dois irmãos voltam como fantasmas vingativos e acabam matando um por um da quadrilha – sendo que a primeira vítima deles é o próprio padrasto, que os teria ‘vendidos’ para a quadrilha.

Para investigar as mortes entra em cena a policial novata, a mezza brasileira Silvia (interpretada pela negra Elisabete Pimenta Boaretto, em seu único crédito no cinema). Ela não só acredita nas forças sobrenaturais, como entra em contato com os irmãos fantasminhas – “só porque minha mãe é brasileira você acha que estou falando de macumba”, reclama a policial para seu chefe.

A ideia é interessante, mas a direção é completamente atrapalhada, com diversas cenas com diálogos dispensáveis e um ritmo capenga, pelo menos a contagem de mortes é alta, ainda que filmadas porcamente, com a cena em que um dos personagens se suicida e se vê apenas o rosto manchado de sangue falso do ator, sem um buraco sequer. A melhor cena de gore é de um olho saltando fora de um rosto – que obviamente seria aproveitado posteriormente em Um Gato no Cérebro.

Destaque para as aparições das crianças, precedidas por uma cantiga infantil xarope, e depois os atores mirim são mostrados com uma iluminação vermelha nos olhos, que dá um efeito interessantemente cômico, ainda que, obviamente, não intencional.

No elenco caras conhecidas do exploitation europeu como Paul Müller e Zora Kerova (Cannibal Ferox, O Estripador de Nova York), esta última fazendo uma pequena participação pelada.

Longe de ser a bomba atômica que pintam por aí, Hansel e Gretel pode agradar aqueles admiradores do cinema tranqueira e bizarro.



 


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