★★★★
Pérola kitsch e exemplar delicioso do chamado krimi alemão.
Baseado (obviamente) em obra de Edgar Wallace, o filme abre
com o funeral de um tal Sir Oliver. O pessoal está levando o caixão para a
cripta quando, de repente, ouvem uma gargalhada estrondosa, supostamente vinda
do caixão. Os carregadores deixam o esquife cair no chão e entra a trilha
marota de Peter Thomas, com os letreiros psicodélicos, numa abertura surtadaça.
Depois disso, no lugar de fazer o óbvio, abrir o caixão para
ver se quem ta dentro não estava com catalepsia ou algo assim, o caixão é
depositado na cripta, e no dia seguinte a gargalhada é comentada pelos quatro
cantos de Londres.
Higgins (Joachim Fuchsberger), inspetor da Scotland Yard e a
bela jornalista xereta Peggy Ward (Siw Mattson) irão investigar.
Giallo foi a designação para os famosos filmes de mistério
italianos, o que pouca gente comenta, e menos gente viu, foram os chamados
krimis alemães.
Os krimis eram filmes de mistério, inspirados nos livros do
prolífico escritor inglês de romances policiais Edgar Wallace (hoje mais
lembrado por ter sido o roteirista do King Kong original). Normalmente filmados
na Alemanha Ocidental – se passando por Londres, eles foram muito populares em
sua época.
Os primeiros krimis foram rodados em preto-e-branco e muito
de seus elementos foram apropriados por Mario Bava em seu giallo Olhos
Diabólicos (1963), que ainda utilizava a fotografia em preto-e-branco, logo ele
usaria sua própria assinatura na explosão de cores Seis Mulheres para o
Assassino (1964).
Im Banne des Unheimlichen (Sob o Feitiço do Estranho, em
português), que no mercado inglês ganhou títulos como The Zombie Walks ou The
Hand of Power, este, quando lançado, o cinema de Bava já estava em pleno
vapor, criando adeptos. E num exemplo de retroantropofagismo, esta pérola de Alfred
Vohrer (outro diretor importante para o krimi, assim como foi Harald Reinl),
suga da obra do Mestre italiano, abusando do visual rebuscado e cores chapadas.
Se o giallo se aprofundaria em cenas de assassinatos e cada
vez mais brutais e na exploração da sensualidade, os krimi carregavam aquela
áurea ingênua da cultura pulp e dos livros de Edgar Wallace. Com muitos
elementos trazidos dos velhos seriados, dos filmes de espionagem e do cinema de
ação.
Aqui em cores berrantes, com o vilão que caminha no meio fio
entre o ridículo e o bacana, pelo menos um outro personagem bizarro – um coveiro
com a pele verde (?), que anemia estranha têm esse homem?
OK, o roteiro se embaralha um pouco, e o ato final é uma
bagunça (escrevo isso como se noventa por cento dos gialli também não fossem
assim).
Com um ritmo ágil (às vezes até demais), uma boa contagem de
cadáveres, aparições cada vez mais divertidas do vilão mascarado, clima de gibi, elenco esbanjando canastrice, fotografia exuberante, cenários cheios de neblinas e a supracitada trilha do ótimo Peter Thomas. Este
filme tem uma carga pop que merece ser vista.
Uma delícia camp.
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