Im Banne des Unheimlichen (Alemanha Ocidental, 1968) – Alfred Vohrer

 ★★★

Pérola kitsch e exemplar delicioso do chamado krimi alemão.

Baseado (obviamente) em obra de Edgar Wallace, o filme abre com o funeral de um tal Sir Oliver. O pessoal está levando o caixão para a cripta quando, de repente, ouvem uma gargalhada estrondosa, supostamente vinda do caixão. Os carregadores deixam o esquife cair no chão e entra a trilha marota de Peter Thomas, com os letreiros psicodélicos, numa abertura surtadaça.

Depois disso, no lugar de fazer o óbvio, abrir o caixão para ver se quem ta dentro não estava com catalepsia ou algo assim, o caixão é depositado na cripta, e no dia seguinte a gargalhada é comentada pelos quatro cantos de Londres.

E é neste cenário que surge um assassino misterioso, que usa uma fantasia carnavalesca usando uma máscara de caveira, que lembra tanto o vilão dos fummeti Kriminal, de Magnus e Max Bunker (e que teve uma versão cinematográfica em 1966, dirigida por Umberto Lenzi) quanto vilão do seriado The Crimson Ghost (1946), aquele mesmo que viraria mascote da banda The Misfits. Este vilão usa um modus operandi curioso, com anel com uma imagem de escorpião, cujo rabo se ‘solta’ e acaba espetando a vítima, liberando um poderoso e fatal veneno. Este vilão está matando todos que tinham ligação com o falecido Oliver.

Higgins (Joachim Fuchsberger), inspetor da Scotland Yard e a bela jornalista xereta Peggy Ward (Siw Mattson) irão investigar.  

Giallo foi a designação para os famosos filmes de mistério italianos, o que pouca gente comenta, e menos gente viu, foram os chamados krimis alemães.

Os krimis eram filmes de mistério, inspirados nos livros do prolífico escritor inglês de romances policiais Edgar Wallace (hoje mais lembrado por ter sido o roteirista do King Kong original). Normalmente filmados na Alemanha Ocidental – se passando por Londres, eles foram muito populares em sua época.

O ciclo começou com A Máscara da Morte (Der Frosch mit der Maske, 1959) de Harald Reinl, e o sucesso estrondoso fez o ciclo se estender até a década de 70, inspirando o Giallo e até o cinema de horror posterior.

Os primeiros krimis foram rodados em preto-e-branco e muito de seus elementos foram apropriados por Mario Bava em seu giallo Olhos Diabólicos (1963), que ainda utilizava a fotografia em preto-e-branco, logo ele usaria sua própria assinatura na explosão de cores Seis Mulheres para o Assassino (1964).

Im Banne des Unheimlichen (Sob o Feitiço do Estranho, em português), que no mercado inglês ganhou títulos como The Zombie Walks ou The Hand of Power, este, quando lançado, o cinema de Bava já estava em pleno vapor, criando adeptos. E num exemplo de retroantropofagismo, esta pérola de Alfred Vohrer (outro diretor importante para o krimi, assim como foi Harald Reinl), suga da obra do Mestre italiano, abusando do visual rebuscado e cores chapadas.



Se o giallo se aprofundaria em cenas de assassinatos e cada vez mais brutais e na exploração da sensualidade, os krimi carregavam aquela áurea ingênua da cultura pulp e dos livros de Edgar Wallace. Com muitos elementos trazidos dos velhos seriados, dos filmes de espionagem e do cinema de ação.

Aqui em cores berrantes, com o vilão que caminha no meio fio entre o ridículo e o bacana, pelo menos um outro personagem bizarro – um coveiro com a pele verde (?), que anemia estranha têm esse homem?

OK, o roteiro se embaralha um pouco, e o ato final é uma bagunça (escrevo isso como se noventa por cento dos gialli também não fossem assim).

Com um ritmo ágil (às vezes até demais), uma boa contagem de cadáveres, aparições cada vez mais divertidas do vilão mascarado, clima de gibi, elenco esbanjando canastrice, fotografia exuberante, cenários cheios de neblinas e a supracitada trilha do ótimo Peter Thomas. Este filme tem uma carga pop que merece ser vista.

Uma delícia camp.   

 


 

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