★★★★
Rever um filme do Bruce Lee é voltar a minha
infância/pré-adolescência, na segunda metade da década de 80, onde, mesmo
depois de 15 anos da morte do astro, seu nome ainda era icônico. E os cinemas
pobres de periferia reprisavam seus filmes constantemente, para a alegria do
público.
Foi assim, no cineminha pulguento que eu frequentava
religiosamente as matinês de domingo, que acabei assistindo pérolas como O Voo
do Dragão, o picaretíssimo Jogo da Morte - que cheguei a assistir duas
vezes com títulos diferentes! O título alternativo, se não me falha a
esclerose, foi Os Golpes Mortais de Bruce Lee, ou alguma bobagem parecida. E,
claro, foi neste mesmo cinema que vi pela primeira vez Operação Dragão.
Quando adulto voltou para os EUA, em busca de seu lugar ao
sol em Hollywood. Nesta fase, seu maior destaque foi como Kato, o Robin genérico
do seriado Besouro Verde. Frustrado com a falta de oportunidades (foi
rejeitado para o papel do Gafanhoto no seriado Kung Fu, que acabou ficando
com David Carradine). Lee volta pra Hong Kong, onde vai fazer filmes em uma
produtora que estava começando, Golden Harvest.
Diferente dos esvoaçantes filmes wuxia da concorrente Shaw
Brothers. Bruce Lee imprimiu lutas mais realistas, em cenários contemporâneos.
Sua estreia nesta nova fase de sua carreira, O Dragão Chinês, bateu recordes de bilheteria
em Hong Kong, que se seguiu com outros hits: A Fúria do Dragão, O Voo do
Dragão (aqui com o próprio Bruce Lee assumindo a cadeira de diretor). Consolidando assim, na base da voadora e golpes rápidos, sua fama.
Não demorou para Hollywood ver que Bruce Lee era a nova galinha dos ovos de ouro, e querer repatriá-lo, desta vez como o astro que ele mesmo sonhava ser. Coube a Warner Brothers, em parceria com o produtor Raymond Chow (o todo poderoso da Golden Harvest), criar a primeira super produção de kung fu da história. E assim surgiu Operação Dragão.
A produção foi feita com alarde e com uma nata de gente legal, que seria um quem é quem do cinema de arte marcial futuro, como o karateca negro Jim Kelly, o musculoso vilão. 'o Hércules chinês' Bolo Yeung (que aqui utiliza o nome de batismo Yang Sze, ele utilizaria o nome artístico em homenagem ao seu personagem aqui, que se chama simplesmente Bolo), entre outros, sem falar na ponta de Sammo Hung (apanhando de Bruce Lee, logo no começo) e Jackie Chan atuou como dublê. È mole ou quer mais?
A trama é boba e basicona, como convém ao gênero, já que quem
aprecia este tipo de filme quer mesmo é um fiapo que una as cenas de
pancadarias, e não melindres shakespearianos.
Lee é um perito em kung fu do templo de Shao-lin, que é
cooptado por uma agência secreta não identifica a entrar no campeonato de artes
marciais organizado pelo vilão Han (Kien Shih, que foi dublado, pois não
manjava nada de inglês), na ilha particular deste. Han é suspeito de tráfico de
drogas e de escravas brancas. Além do agravante de capangas do vilão terem sido
responsáveis pelo suicídio da irmã de Lee – ou seja, além da missão, nosso
herói tem motivos particulares para chutar bundas e quebrar os cornos de todo mundo na ilha.
O plot é basicamente uma trama de 007 adaptado aos filmes de
kung fu, como alguém já disse, o vilão Han é um Dr. No com próteses para a mão
mais legais.
O filme tem suas falhas, como John Saxon que não convence
nada como lutador, e menos ainda de que irá derrotar Bolo Yeung, e o campeonato
em si poderia ser melhor explorado.
No entanto, Operação Dragão, assim como o próprio Bruce
Lee, ambos são ícones pops que transcendem o gênero kung fu. Não dá para
imaginar filmes de campeonatos como O Mestre da Guilhotina Voadora, O Grande
Dragão Branco, entre outros (nem preciso falar de Tarantino, né?), e fora os vídeo games de luta que assolaram os
anos 80 e 90, e se perpetuam até hoje. Tudo isso é herança de Operação Dragão.
Momentos antológicos: o enfrentamento entre Bruce Lee e
Robert Wall. E o final na sala de espelhos, uma homenagem a A Dama de Shangai de Orson Welles.
Diversão bruta e seminal que ainda não perdeu seu brilho,
mesmo 50 anos depois.
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