★★★★
David Cronenberg é tanto um dos maiores diretores vivos quanto dos mais injustiçados. A prova é este Spider, uma pérola perdida em sua filmografia. Pouco visto, pouco lembrado e pouco comentado.
Se no belo e oscarizado Meu Pai (2020) de Florian Zeller, passeamos
pela mente de um Anthony Hopkins atingido pela demência, em Spider somos
levados pelas lembranças de um Ralph Fiennes demente.
Finnies interpreta Cleg, que foi apelidado pela mãe de ‘spider’
(aranha) graças a sua fixação por teias um pobre diabo, que depois de viver em
um manicômio, vai para uma casa de recuperação, é lá que ele busca as
recordações de infância e uma tragédia que o afetará para sempre.
Com um elenco de primeira, com Fiennes, Gabriel Byrne, como o
pai alcoólatra e Miranda Richardson, se desdobrando em um papel duplo, como a
recata mãe do protagonista e a prostituta amante do pai, sem falar em John
Neville, genial como um dos inquilinos da casa de recuperação e que tem as
melhores falas do filme, e Lynn Redgrave. Ou seja, só pelo elenco o filme já
ganharia.
Mas a direção de Cronenberg é precisa, com uma narrativa
fragmentada e um ritmo lento e doloroso. O filme tem certas nuances
interessantes, como os dentes podres da personagem da prostituta de Miranda, ou
closes nos dedos amarelados de fumo e as unhas imundas de Fiennes, os cenários
decadentes. Tudo pontuado pela precisa trilha de Howard Shore.
Spider foi um retumbante fracasso de bilheteria, e,
obviamente, não agradará a todos. Agora se você se permitir que Cronenberg
pegue na sua mão e viaje pelas teias da mente insana do protagonista, acabará
numa jornada sombria, suja, escura, obscura e perturbadora. Se essas características
lhe agrada, mergulhe de cabeça.
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