Spider – Desafie Sua Mente (Spider, Canadá/Reino Unido/França, 2002) – David Cronenberg

★★★★

David Cronenberg é tanto um dos maiores diretores vivos quanto dos mais injustiçados. A prova é este Spider, uma pérola perdida em sua filmografia. Pouco visto, pouco lembrado e pouco comentado.

Se no belo e oscarizado Meu Pai (2020) de Florian Zeller, passeamos pela mente de um Anthony Hopkins atingido pela demência, em Spider somos levados pelas lembranças de um Ralph Fiennes demente.

Finnies interpreta Cleg, que foi apelidado pela mãe de ‘spider’ (aranha) graças a sua fixação por teias um pobre diabo, que depois de viver em um manicômio, vai para uma casa de recuperação, é lá que ele busca as recordações de infância e uma tragédia que o afetará para sempre.

Mas afinal, dessas recordações, ou que é ou não verdadeiro? Devemos nos lembrar que estamos sendo guiados por uma mente esquizofrênica.
Há elementos aqui que me remeteu ao recente Noite Passada em Soho, mas não vou me aprofundar nos pormenores para não entregar spoilers de ambos os filmes. Talvez seja devaneio da minha cabeça, mas não seria surpresa se Edgar Wright tivesse visto esse filme. 

Com um elenco de primeira, com Fiennes, Gabriel Byrne, como o pai alcoólatra e Miranda Richardson, se desdobrando em um papel duplo, como a recata mãe do protagonista e a prostituta amante do pai, sem falar em John Neville, genial como um dos inquilinos da casa de recuperação e que tem as melhores falas do filme, e Lynn Redgrave. Ou seja, só pelo elenco o filme já ganharia.

Mas a direção de Cronenberg é precisa, com uma narrativa fragmentada e um ritmo lento e doloroso. O filme tem certas nuances interessantes, como os dentes podres da personagem da prostituta de Miranda, ou closes nos dedos amarelados de fumo e as unhas imundas de Fiennes, os cenários decadentes. Tudo pontuado pela precisa trilha de Howard Shore.

Spider foi um retumbante fracasso de bilheteria, e, obviamente, não agradará a todos. Agora se você se permitir que Cronenberg pegue na sua mão e viaje pelas teias da mente insana do protagonista, acabará numa jornada sombria, suja, escura, obscura e perturbadora. Se essas características lhe agrada, mergulhe de cabeça.



 


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