The Rough House (EUA, 1917) – Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle, Buster Keaton

★★

Nos primórdios da história do cinema, os comediantes reinavam em Hollywood e o primeiro grande astro foi Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle (aqui no Brasil era conhecido como Chico Bóia). Foi o primeiro a assinar um contrato milionário na Meca do cinema. Ajudou na carreira de atores iniciantes como Buster Keaton e Chaplin.

Porém, assim como foi o primeiro astro de Hollywood, foi também o primeiro astro a ser cancelado.

No auge da carreira, em 1921, ele se envolveu em um escândalo, onde uma aspirante a atriz acabou morrendo de uma inflamação no peritônio, três dias depois de uma farra em um hotel com Arbuckle e mais dois amigos. Testemunhas alegavam que Roscoe teria violentado a moça com gelo, as coisas foram aumentando até chegar na imprensa a versão de que ele teria penetrado a moça com uma garrafa de champanhe ou coca-cola. O julgamento virou um ato midiático, com direito a tentativas de chantagens de testemunhas pra cima de Roscoe.



No fim, o ator acabou absolvido, com direito a uma carta de desculpas do júri, mas era tarde demais, sua carreira foi destruída. Cinemas boicotavam seus filmes e hoje o cara caiu no ostracismo.

Numa época de hedonismo e excessos que foi a Hollywood dos anos 20 – só para terem uma idéia, a atriz Mabel Normand, queridinha de Chaplin, foi suspeita do assassinato de William Desmond Taylor.

Não havia inocentes na Meca do cinema por aqueles anos, como apontou o satanista Kenneth Anger em seu célebre livro de fofocas Hollywood Babylon. Por essas e outras, quando apontam Chaplin como o grande malvado, dá vontade de rir da pureza e ingenuidade do acusador.

O fato é que muitos filmes estrelados Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle naturalmente se perderam, por isso é inegável a importância histórica quando se encontra um curta como The Rough House. Também é inegável que o filme é um porre.

São 18 minutos em que o personagem de Roscoe, que aqui mora com esposa e sogra, toca fogo acidentalmente na cama do casal, tenta fazer uma refeição para visitas e ainda tem de enfrentar roubo de joias.



A ação é caótica e quase ininterrupta, com tiros, caras e cambalhotas. Um humor muito popular por aqueles dias, mas que envelheceu demais. Não consegui dar um sorriso até o final. E isto é fatal para uma comédia.

Buster Keaton não tem muito que fazer aqui, e como ainda não tinha desenvolvido sua persona de “o homem que nunca ri”, aqui vimos ele sorrindo! No elenco também tem o Al St. John, que começou várias comédias para depois virar coadjuvante em westerns B. Ele e Keaton brigam até pararem numa delegacia e virarem policiais (!?).

A grande curiosidade é numa cena do café da manhã, em que Arbuckle brinca com pãezinhos e garfos, numa literal dança dos pães, similar ao que o Chaplin fez Em Busca do Ouro (1925), como “The Rough House” ficou anos desaparecidos, muita gente achou que carlitos que tinha inventado a cena – como diria Fellini: “a originalidade é um plágio não descoberto”.

“The Rough House” é um curta que pode interessar aos cinéfilos e historiadores, pois vale só e unicamente pelo valor histórico. Como comédia é sem graça.



 

 

 

 

 

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