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Nos primórdios da história do cinema, os comediantes reinavam em Hollywood e o primeiro grande astro foi Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle (aqui no Brasil era conhecido como Chico Bóia). Foi o primeiro a assinar um contrato milionário na Meca do cinema. Ajudou na carreira de atores iniciantes como Buster Keaton e Chaplin.
Porém, assim como foi o primeiro astro de
Hollywood, foi também o primeiro astro a ser cancelado.
No auge da carreira, em 1921, ele se envolveu em um escândalo, onde uma aspirante a atriz acabou morrendo de uma inflamação no peritônio, três dias depois de uma farra em um hotel com Arbuckle e mais dois amigos. Testemunhas alegavam que Roscoe teria violentado a moça com gelo, as coisas foram aumentando até chegar na imprensa a versão de que ele teria penetrado a moça com uma garrafa de champanhe ou coca-cola. O julgamento virou um ato midiático, com direito a tentativas de chantagens de testemunhas pra cima de Roscoe.
No fim, o ator acabou absolvido, com direito a uma carta de desculpas do júri, mas era tarde demais, sua carreira foi destruída. Cinemas boicotavam seus filmes e hoje o cara caiu no ostracismo.
Numa época de hedonismo e excessos que foi a
Hollywood dos anos 20 – só para terem uma idéia, a atriz Mabel Normand,
queridinha de Chaplin, foi suspeita do assassinato de William Desmond Taylor.
Não havia inocentes na Meca do cinema por aqueles
anos, como apontou o satanista Kenneth Anger em seu célebre livro de fofocas
Hollywood Babylon. Por essas e outras, quando apontam Chaplin como o grande
malvado, dá vontade de rir da pureza e ingenuidade do acusador.
O fato é que muitos filmes estrelados Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle naturalmente se perderam, por isso é inegável a importância histórica quando se encontra um curta como The Rough House. Também é inegável que o filme é um porre.
São 18 minutos em que o personagem de Roscoe,
que aqui mora com esposa e sogra, toca fogo acidentalmente na cama do casal,
tenta fazer uma refeição para visitas e ainda tem de enfrentar roubo de joias.
A ação é caótica e quase ininterrupta, com
tiros, caras e cambalhotas. Um humor muito popular por aqueles dias, mas que
envelheceu demais. Não consegui dar um sorriso até o final. E isto é fatal para
uma comédia.
Buster Keaton não tem muito que fazer aqui, e
como ainda não tinha desenvolvido sua persona de “o homem que nunca ri”, aqui
vimos ele sorrindo! No elenco também tem o Al St. John, que começou várias comédias para depois virar coadjuvante em westerns B. Ele e Keaton brigam até pararem numa delegacia e virarem policiais (!?).
A grande curiosidade é numa cena do café da
manhã, em que Arbuckle brinca com pãezinhos e garfos, numa literal dança dos
pães, similar ao que o Chaplin fez Em Busca do Ouro (1925), como “The Rough
House” ficou anos desaparecidos, muita gente achou que carlitos que tinha
inventado a cena – como diria Fellini: “a originalidade é um plágio não
descoberto”.
“The Rough House” é um curta que pode
interessar aos cinéfilos e historiadores, pois vale só e unicamente pelo valor
histórico. Como comédia é sem graça.
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