A Bruxa Volta À Vida (Noita Palaa Elämään, Finlândia, 1952) - Roland af Hällström

★★★

Dificilmente alguém vai associar a Finlândia com o cinema de horror, principalmente seus filmes mais antigos, pois não há praticamente neste campo, porém, no ano de 1952 foram rodadas duas pérolas fantásticas. Uma foi A Rena Branca (Valkoinen Peura) de Erik Blomberg, que teve algum reconhecimento internacional, chegou a competir no festival de Cannes e a ganhou um Globo de Ouro foi lançado no Brasil pela Versátil Home Video no box Obras-Primas do Terror Volume 11. Já a outra produção do mesmo, mas sem tanta repercussão é Noita Palaa Elämään, que pode se achar por aí na internet com o título traduzido literalmente para o português: A Bruxa Volta À Vida. Internacionalmente é conhecido por títulos como The Witch Returns to Life, Return of the Witch ou simplesmente The Witch.

Ainda que sem o mesmo hype de A Rena Branca, e sem ser assustador, este A Bruxa Volta À Vida merece ser visto, nem que seja pelas cenas de nudez da protagonista Mirja Mane, algo muito ousado para o longínquo ano de 1952!



O filme começa com um casal de arqueólogos, Hannu (Toivo Mäkelä) e sua esposa Greta (Hillevi Lagerstam), fazendo escavações na terra do tempestuoso Barão Hallberg (Aku Korhonen). O casal descobre o túmulo de uma bruxa que teria sido executada ali há 300 anos. O cadáver se encontra com uma estaca trespassada no corpo à moda vampiresca. Claro que a tal estaca de madeira será retirada do lugar. Na noite, durante uma tempestade, é encontrado no buraco que era a cova da bruxa, uma jovem nua chamada Birgit (Mirja Mane), que após ser recebida dentro da mansão do Barão, se revela como a bruxa revivida!

Falta ao filme um tom pesado, lúgubre ou gótico, como os filmes da Universal e os posteriores da Hammer e os italianos. Longe de ser assustador, A Bruxa Volta À Vida nos cativa por outros meios, o filme é carregado por um tom de humor, principalmente nas figuras dos mais idosos – mais especificamente empregados do Barão e camponeses, que morrem de medo da bruxa, e querem enviá-la ao além a todo custo. A bruxa se mostra mais interessada em seduzir os homens da casa, do mulherengo filho do barão, Veikko (Sakari Jurkka), até o pintor Kauko (Helge Herala). Nem mesmo o casado Hannu enlouquece perante a sedução de Birgit, que se diverte jogando os homens aos seus pés.



Até Kauko, que antes do surgimento da bruxa, dava umas cantadas na casada Greta, agora engata um romance com esta última. Há uma sexualização quase animal que desperta junto com a bruxa.

Baseado numa peça do escritor Mika Waltari, ou autor mais popular da Finlândia, A Bruxa Volta À Vida pode ser vista, em sua superfície, por um viés conservador, de como uma moça jovem, bonita, cheia de vitalidade, emancipada, pode desestabilizar o meio social. Por outro lado, se vermos atentamente, os personagens masculinos aqui já eram fracos de caráter antes mesmo da bruxa acordar de seu sono eterno. O que ela faz é expô-los ao ridículo do que realmente são.

O grande nome do filme é Mirja Mane, seja dançando nua, em meio as brumas do pântano, seja vestindo um vestido esvoaçante em meio aos pomares, ela chega a lembrar algo perto de uma versão escandinava da Bettie Page. Mirja, então com 23 anos, fez seu segundo trabalho no cinema, e deve ter causado algum reboliço nos poucos que se aventuraram a ver este filme na época, mas sua carreira não deslanchou, trabalhou em apenas mais três filmes nos dois anos seguintes e se afastou do cinema, faleceu em 1974, um pouco antes de completar 45 anos, de causa não revelada. 

Mais uma fantasia, com toques de comédia, do que um filme de terror, A Bruxa Volta À Vida é carregado de charme. Vale a conferida, ainda mais que se trata de uma cinematografia pouco vista por aqui, no caso a finlandesa.



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