★★★
Na virada dos anos 60 para 70, o cinema italiano descobriu um
novo filão, o chamado polizieschi, também conhecido como poliziotteschi,
que eram filmes policiais que aproveitavam o r5astro de sucessos americanos
como Bullit, Dirty Harry, O Poderoso Chefão, Operação
França, Desejo de Matar, etc. Claro que esses rip-offs italianos
apertavam ainda mais o pé no acelerador, potencializando a níveis estratosféricos
elementos discutíveis da matriz yankee como a violência, a misoginia, a
truculência, o fascismo policial. Todo esse sensacionalismo, é claro, para
atrair o espectador médio.
O filme começa com uma família voltando de viagem, retornando
para a Itália. O pai vai na frente dirigindo, enquanto a mãe senta atrás, com o
filho no colo, este aparentemente doente. O carro sofre um acidente onde todos
morrem, o pai inclusive é decapitado. Chegando no necrotério se descobre que a
criança não só já estava morta antes do acidente, como carregava um
carregamento de drogas costurado dentro da barriga.
O fato que utilizar o cadáver de uma criança para o tráfico
de drogas é uma infâmia até para os capos da máfia italiana. Os chefões chegam
a conclusão que o responsável por essa monstruosidade é Don Ricuzzo Cantimo, ‘o
americano’ (Fausto Tozzi), um chefe de uma ‘família’ que comanda o tráfico de
drogas em um pequeno e miserável vilarejo na Sicília, e que ganhou esse apelido
após morar vários anos nos EUA. Para acabar com o mafioso inconveniente é
designado Tony Aniante (Henry Silva), um matador da máfia, que também morou nos
EUA (de onde foi expulso, aliás), que se mostra implacável e psicótico, e que
anuncia sua chegada com um assovio sinistro, antes de meter bala em seus
desafetos.
Aniante chega na cidade e trava relações com Don Cascemi (Vittorio Sanipoli), o rival local de Don Ricuzzo. Na verdade Tony Aniante segue a cartilha de Por um Punhado de Dólares e Yojimbo, com jogadas aparentemente dúbias, coloca uma família mafiosa contra a outra. Neste interím, nosso protagonista assassino conhece Margie (Barbara Bouchet, no auge da beleza), a esposa de Ricuzzo, que ele trouxe dos EUA. Ela é uma ex-prostituta que resolve arrastar sua asa para o lunático Tony, que numa ocasião a violenta, com a moça agarra a um cadáver aberto de um porco pendurado, em outra situação, ele espanca a moça até ficar desfigurada. O grau de niilismo aqui é tão grande que o que mais chega perto de ser um (anti)herói é na verdade um cretino misógino. Por fim, Amiante cria uma guerra entre as ‘famílias’ com cadáveres para todos os lados.
Ainda há uma subtrama Romeu e Julieta em que o sobrinho de um dos chefes se apaixona pela filha do outro chefe, totalmente descartável. Tony Amiante é perturbado por lembranças, em um flashback em preto-e-branco que vai dar um plot twist final.Lançado na Itália como Quelli che Contano – que em português é algo como Os que Importam – título que os distribuidores norte-americanos acharam ameno demais, então inventaram o chamativo e sensacionalista Cry of a Prostitute, dando destaque no cartaz para o rosto de Barbara Bouchet machucada, aqui no Brasil saiu como Comando do Crime. Aliás, a entrada da atriz no filme dando um banho de lite em sua pele, é memorável.
Quanto a truculência do filme, dá para citar em que uma
cena, após balear dois desafetos, Tony, para garantir que os caras estão
mortos, passa um trator por cima deles! E tem até o corpo de um cadáver sendo
cortado com uma serra fita, dessas de açougueiro.
Infame, grosseiro, ofensivo, desprezível e perturbador, Quelli che
Contano não é para estômagos fracos e ânimos sensíveis. Canceladores
mantenham distância. Apreciadores do exploitation mais insano e
grotesco, irão se deleitar.
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