O Sótão (The Attic, EUA, 1980) – George Edwards, Gary Graver

★★★1/2

Pérola escondida no tempo. Nos poucos que desbravaram esta preciosidade se chega a um consenso: seu ostracismo se deve ao fato do filme não ter encontrado seu público, por ter sido vendido de forma errada. Lançado como se fosse um terror tradicional The Attic é na verdade um thriller psicológico, um drama pesado, melancólico e deprimente, valorizado pela dupla de protagonistas.

Louise Elmore (Carrie Snodgress) é uma bibliotecária solteirona, com tendências ao alcoolismo e que claramente está perdendo suas faculdades mentais. Seu noivo desapareceu no dia do casamento, há 19 anos, fato que a moça nunca se recuperou. Como se não bastasse, Louise mora em um casarão gótico com o seu pai inválido e tirânico, Wendell (Ray MIlland), que em sua cadeira de rodas tenta dominar e manipular a vida da filha.

Wendell teria ficado paralítico após saltar da janela do segundo andar da loja que tinha e que estava pegando fogo, que segundo uma fuxiqueira local, teria sido Louise a causadora do incêndio, a moça também teria tentado tacar fogo na própria biblioteca certa vez.

Entre tentativas frustradas de suicídio e desmandos e desprezo do pai, em que constantemente ela fantasia mata-lo de diversas formas, Louise segue uma rotina cinzenta, em que sonha constantemente com viagens para longe dali, mas se sente presa, pois precisa cuidar do seu progenitor.

Um sopro de sanidade aparece na vida de nossa infeliz protagonista quando ela trava amizade com a jovenzinha Emily Perkins (Ruth Cox), nova funcionária da biblioteca que está em treinamento para ocupar o lugar de Louise (como se não bastasse tudo, a mulher está em vias de perder o emprego).

E é de Emily que Louise ganha um presente significativo, um chimpanzé de estimação, para horror de seu pai – desde o início percebemos a adoração da protagonista por macacos pela quantidade de bichos de pelúcia de primatas em seu quarto. As tensões entre Louise e seu pai vão crescendo, principalmente depois do desaparecimento do macaco, até uma revelação que levará a protagonista ao clímax no fatídico sótão do título, única cena genuinamente de terror do filme.

The Attic é, como dizem os norte-americanos, é um filme que queima lentamente, focado nos personagens, seu ritmo poderá desagradar muitos espectadores, ávidos por sangue e sustos fáceis.

A atriz Carrie Snodgress está fantástica. Falecida em 2004, aos 58 anos, de insuficiência cardíaca, enquanto aguarda um transplante de fígado. Ela chegou a ser candidata ao Oscar de melhor atriz no começo de carreira, por Quando Nem um Amante Resolve, porém abandonou logo a carreira para viver com o cantor Neil Young, com quem viveu oito anos e com quem teve um filho, Zeke, que nasceu com paralisia cerebral (curiosamente Young se casaria em !977 com Pegi Young, com quem teria seu segundo filho< Bem Young, também com paralisia cerebral). Após o fim do romance com o roqueiro, Carrie resolveu retomar a carreira de atriz, mas Hollywood foi impiedosa com a moça, fazendo com que ela se contentasse com produções menores como está... terminou sua carreira em aparições em seriados de tv como Arquivo X. A atuação de Carrie Snodgress aqui é tão poderosa que parece que a atriz trouxe as amarguras de sua vida para a personagem Louise. 


Já Ray MIlland parece se deleitar com as crueldades de seu personagem Wendell. Um velho tão insuportavelmente rabugento e dominador que rende até alguns momentos de comicidade agridoce.

Curiosamente os personagens Louise e Wendell já tinham aparecidos, como personagens secundários, em outro filme, Raça Maldita (1973) de Curtis Harrington, interpretados aqui por Luana Anders como Louise e Peter Brocco como Wendell. O roteirista deste filme, George Edwards, achou que a dupla poderia render um filme só para eles, e assim ele escreveu e The Attic, que se não é uma continuação convencional do filme de Harrington, pode ser visto como uma espécie de spin-off. Alíás, as filmagens aqui foram um tanto conturbadas. Dificultadas pelo próprio roteirista e diretor, que inicialmente ficou doente no começo das filmagens e depois se mostrou desinteressado, abandonando constantemente o set, deixando a cadeira de direção para Gary Graver, que num documentário de 2004, A Gary Graver Movie, alega para si ter filmado diversas cenas, incluindo o clímax no sótão, assim como ter criado um vínculo forte de amizade com Carrie Snodgress. Apesar disto tudo, Graver foi sumariamente não creditado nos letreiros do filme.

De qualquer forma, The Attic é daqueles filmes que podem desagradar muitas pessoas, mas que recompensará tantos outros. Uma obra que ainda busca seu público, que poderá lhe dar o devido valor.



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