★★★★
Eloy
de la Iglesia (1944-2006) foi um prolífico e controverso diretor de cinema
espanhol, pouco conhecido fora de seu país natal. Homossexual e filiado ao
Partido Comunista espanhol, Eloy começou fazendo seu cinema com a censura
franquista no seu cangote. Com o fim da ditadura espanhola, começou a ousar
mais, se notabilizando pelos chamados ‘filmes quinqui’, um subgênero do cinema
espanhol que retratava a delinquência juvenil, mostrando jovens periféricos e
uso de drogas, foi nesta fase que o diretor adquiriu o vício em heroína. Seu
cinema acabou influenciando outros diretores espanhóis, como o seu xará de
sobrenome, Álex de la Iglesia, com quem não tem nenhum parentesco, e Pedro Almodóvar.
A
Semana do Assassino,
realizado ainda nos tempos sombrios da ditadura de franco, é seu trabalho mais
conhecido por aqui - lançado recentemente em DVD no Brasil pela Versátil Home
Video no box Obras-Primas do Terror: Horror Espanhol.
O
filme segue uma narrativa linear, marcando os dias da semana.
Numa
noite de domingo, Marcos e Paula estão trocando amassos no banco traseiro de um
táxi. O taxista irritado expulsa os pombinhos do carro, agride Marcos e parte a
encher Paula de tapas na cara. No afã de proteger a amada, nosso protagonista bate
na cabeça do motorista com uma pedra, e o casal foge.
No
dia seguinte, isto é, na segunda-feira. Os dois descobrem, pelos jornais, que o
taxista morreu. Marcos, apavorado, resolve não falar nada para a polícia, já
Paula pensa diferente. Neste momento a diferença de classe social pesa, pois
segundo Marcos “a polícia não ouve o pobre”. Nada disso demova a moça da ideia
de ir a delegacia, e no desespero Marcos acaba matando a namorada e escondendo
no quarto.
Marcos
vai escondendo os cadáveres no quarto, mas com o calor intenso do verão, o
fedor vai ficando insuportável – é impagável ver quando Marcos depois de um dia
de trabalho, chega em casa e encontra uma matilha de cachorros na porta,
atraído pelo odor de podridão dos mortos.
Nesse
ínterim, entre um crime e outro, Marcos é promovido na fábrica a trabalhar numa
máquina enorme, que processa carne, transformando numas pastas para prováveis
hamburgueres e salsichas, é aí que ele começa a levar numa bolsa parte dos
mortos e desovar dentro da máquina.
Com
elementos de clássicos como Repulsa ao Sexo e Janela Indiscreta,
este A Semana do Assassino é um fascinante e perturbador estudo sobre a
degradação mental de um homem, a solidão e a sociopatia, tudo sobre o prisma da
luta de classes.
Lançado
no mercado internacional com o título apelativo e errôneo de Cannibal Man,
já que o protagonista mesmo não pratica canibalismo, apenas tritura a carne de
suas vítimas com carne de animais para outros comerem. De qualquer forma, embora
não seja extremamente violento, com apenas algumas cenas de assassinatos
gráficos e uma sequência repulsiva em um matadouro, mostrando bois sendo
abatidos, na mesma linha do clássico curta-metragem Le Sang des Bêtes
(1949) de Georges Franju, foi o título inglês que garantiu seu lugar na
famigerada lista de Videos Nasties, para quem ainda não sabe, foi uma espécie
de Index Librorum Prohibitorum do VHS na Inglaterra da Margareth Thatcher.
Curiosamente
Eloy detestava o final, uma conclusão que julgava moralista e estúpida, mas que
foi uma imposição da censura franquista. De qualquer forma, ainda guarda uma
ironia final.
Um
filme que merece ser mais visto por um diretor que merece ser mais conhecido.
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