Pinóquio (Guillermo del Toro's Pinocchio, EUA/México/França, 2022) - Guillermo del Toro, Mark Gustafson
★★★★
Guillermo del Toro é
uma espécie de novo Tim Burton. Veja bem,
faço essa afirmação sem juízo de valor, sem desmerecer ou engrandecer nenhum
dos dois, apenas destacando pontos em comum, em especial dois fatores que se
destacam ao meu ver.
Os dois buscam suas
assinaturas em estéticas próprias – ainda que Burton seja mais escuro e de cores
frias, enquanto del Toro seja mais colorido, ambos bebem nas mesmas fontes: o
vintage, o gótico, a cultura pop e o horror. Ambos também mostram um carinho
especial pelos ‘diferentes’, os freaks sociais – OK, neste ponto o mexicano é
mais politizado que o norte-americano.
Aqui a clássica
história do garoto de madeira construído pelo velho Geppetto, que ganha vida e
cujo o nariz cresce toda vez que mente, é transporta do meados do século XIX,
para a Itália fascista de Mussolini– uma ideia ousada, mas não exatamente
original, Francis Ford Coppola, em entrevistas na década de 1990, dizia que seu
sonho era fazer uma versão de Pinóquio que se passasse durante a Segunda Guerra
Mundial.
Alcoolizado, numa
noite de tempestade, Geppetto constrói seu boneco numa cena que homenageia Frankenstein.
O boneco ganha vida graças a uma espécie de fada.
A inocência do
boneco-menino o leva a cometer inúmeras merdas, como trabalhar em um circo
administrado por um tal Conde Volpe (que achei a cara do Donald Sutherland).
Para desespero do Grilo Falante (dublado pelo Ewan McGregor), o inseto, com
pretensões literárias, mora praticamente dentro de Pinóquio – com um quadro do
rabugento do Arthur Schopenhauer e cheio de frases de efeito.
Pinóquio viaja pela
Itália, tira uma onda com Mussolini em pessoa (a caricatura que o filme faz
dele é muito boa), morre e ressuscita algumas vezes (muito divertida a
concepção do além aqui, com sinistro coelhos jogando cartas, alguém falou em Alice
no País das Maravilhas?) até parar no estômago de um monstro marinho.
Com uma visão sombria
e melancólica, o filme trata de temas como vida e morte, aceitação das pessoas
como elas são, anti-guerra e anti-fascismo, e se você acha que são temas
pesados demais para crianças, abra os olhos, pois seu filho deve estar vendo
uma pá de bosta, então entregue para ele um pouco de humanismo.
Tocante e emocionante,
é um dos melhores, se não for o melhor, e mais equilibrado trabalho de del Toro, ainda mais depçois do meio decepcionante O Beco do Pesadelo (2021, que voc~e pode ler meu texto sobre ele aqui).
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