Sherlock Holmes e o Colar da Morte (Sherlock Holmes und das Halsband des Todes, Alemanha Ocidental/França/Itália, 1962) – Terence Fisher ★★

Após formatar o padrão das produções da produtora inglesa Hammer, com sangue pingando e donzelas em decotes generosos em um escandaloso technicolor - e assim revolucionar o cinema de horror – o diretor Terence Fisher resolveu dar uma escapada até a Berlim Ocidental em 1962, onde fervilhada os chamados krimis – filmes de mistérios inspirados na obra de Edgar Wallace, filmados em Berlim passando por Londres, filmes estes que acabaram influenciando o giallo italiano. E na terra do chucrute Fisher resolveu fazer a sua leitura dos krimis.

Só que Fisher desprezou Edgar Wallace, optando por Arthur Conan Doyle e sua criação mais famosa: Sherlock Holmes. Para a produção, o diretor convidou para o papel do famoso detetive seu parsa de Hammer, Christopher Lee, e para o papel do amigo Watson, convocou outra figurinha carimbada da produtora inglesa Thorley Walters, em sua primeira vez no papel (ele interpretaria o doutor em mais três produções).

Curiosamente, Fisher já tinha realizado uma adaptação do detetive mais famoso de todos para a Hammer, o infinitamente superior O Cão dos Baskervilles (1959), com Peter Cushing como Holmes, tem Lee também no elenco, em um papel secundário  

Baseado muito vagamente no romance O Vale do Terror – na verdade só no miolo do filme, e o fato mais interessante da investigação de Holmes no livro – que envolve um guarda-chuva e um altere, é completamente suprimido aqui. Neste Sherlock Holmes und das Halsband des Todes temos a dupla dinâmica Holmes & Watson tentando desvendar qual a próxima tramóia do arquiinimigo de nossos protagonistas, Professor Moriarty (Hans Söhnker), e descobre que ele está envolvido com o roubo do colar que pertenceu a Cleópatra.

Com locações em Dublin, Londres e Berlim, roteiro do mestre cinema pulp Curt Siodmak (A Volta do Homem Invisível, O Lobisomem, A Morta-Viva, etc, etc, etc) e os supracitados Fisher e Lee, sem falar no elenco de apoio com a participação de Senta Berger nada disso impediu que esse filme fosse uma tremenda decepção.

Talvez Fisher tenha sentido falta dos valores de produção da Hammer, com seus suntuosos cenários kitsch e fotografia colorida. Aqui até quesitos básicos, como a montagem e a fotografia em preto-e-branco estão aquém do nível do diretor, defeitos reforçados pela cópia vagabunda disponível na web, inclusive no YouTube, que para piorar, tem uma dublagem em inglês ridícula – curiosamente nesta cópia o assistente de direção Frank Winterstein é creditado como co-diretor. Até o figurino é descuidado, o sobretudo xadrez, vestimenta que ficou icônico em Holmes, aqui, quando aparece, é pavoroso. Parece algo entre capa de butijão de gás e toalha de piquenique.

                                                   Não disse que o sobretudo era feio? 

Embora Christopher Lee tenha uma presença imponente, seu Holmes está longe, por exemplo, da energia de seu grande amigo Peter Cushing no supracitado O Cão dos Baskervilles. Thorley Walters faz um Watson atrapalhado, mas longe do nível de quase debilidade mental do Nigel Bruce na série com Basil Rathbone. O grande destaque do elenco fica mesmo para Hans Söhnker, que faz um Moriarty sinistro.

Nos fins das contas o grande inimigo de Holmes aqui não é Moriarty, mas o ritmo moroso e sonolento do filme. Faltam-lhe vitalidade e cenas memoráveis. O resultado é extremamente burocrático. Uma pena.

Claro que fãs do detetive vão acabar vendo este filme, nem que seja por curiosidade. Agora se você quer conhecer os krimis alemães procure algo do Harald Reinl ou Alfred Vohrer (como o Im Banne des Unheimlichen, que comentei aqui).




Link do filme do YouTube (depois não diga que não avisei que é chatinho):



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